terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

RELATIVIDADE OU LEITURA ANALÍTICA DA BIOÉTICA?




As ciências com todas as suas tecnologias podem:

F o r m a r

R e f o r m a r

D i s f o r m a r

T r a n s f o r m a r

C o n f o r m a r

I n f o r m a r

F o r m a r

A bioética também pode:

F o r m a r

I n f o r m a r

C o n f o r m a r

T r a n s f o r m a r

D i s f o r m a r

R e f o r m a r

F o r m a r

Esse é um poema concreto, baseado num poema de José Lino Grünewald, conhecido pelo emprego dessa técnica em suas obras. Sendo um poema concreto, sua forma visual tem tanta importância quanto a sua forma sonora. Sete palavras dispostas de maneira a formar um hexágono, na medida em que a primeira palavra tem seis letras; a segunda oito e assim sucessivamente, num movimento crescente seguido de outro decrescente. A palavra eixo não é o verbo formar, mas o substantivo forma, que se encontra velada, vemos quando ela se desloca para a direita até atingir a metade do poema e, em seguida, volta à sua posição inicial, no eixo direita-esquerda. No eixo superior-inferior, a mesma palavra apresenta correspondência invertida de posições, como se colocássemos um espelho sobre o eixo.

A nível denotativo de conteúdo, temos os significados imediatos das palavras:

- Forma: Como substantivo, demonstra os limites exteriores da matéria de que é constituído um corpo; remete a molde; configuração; feitio.

- Formar: Como verbo é transitivo. Remete a constituir; dispor; fundar; dar forma; organizar.

- Reformar: Formar de novo; reconstruir; aprimorar.

- Disformar: dis: separação, negação (da forma); remete a deformar: alterar a forma, perda da forma primitiva.

- Transformar: metamorfosear; dar nova forma.

- Conformar: Conciliar; harmonizar; adequar; harmonizar.

- Informar: Comunicar; participar.

Partimos de uma forma que é corrigida, emendada, a ponto de se tornar disforme, de perder a forma primitiva. Com o “trans/além de”, metamorfoseia-se numa nova forma. Essa então se cristaliza, se torna presente, espalhada, compartilhada. Chega-se ao ponto final que também pode ser um novo início.

A nível conotativo de conteúdo percebe-se que o processo descrito corresponde ao de abertura ou ruptura de algo estabelecido, que culmina numa descoberta, numa transformação, crescimento, e termina no estabelecimento de outro molde ou modelo, isto é, num fechamento. Esse processo tanto pode se referir didaticamente à descoberta, ao novo que rompe códigos estabelecidos, como pode ser mal interpretado, ocasionando ou propondo um fechamento. Cada vez que aprendemos uma coisa nova, rompemos com um molde, tentamos reconstruí-lo, corrigi-lo, até que ele muda tanto, que passa a ser uma nova forma, e assim vamos... E o que parece brincadeira se enche de sentido.

OBS: Não são erros de digitação a separação no segundo poema, bem como se observarem, as palavras em itálico podem fornecer boas pistas para se realizar um bom diálogo sobre o assunto. Basta fazer a escolha que podemos ouvir no desenvolvimento da dinâmica científico-tecnológico os tecnocratas, tecnofóbicos, etc. Até os psicoteólogos.

Ulisses

Imagem:http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/escher/relatividade.html

4 comentários:

Germano disse...

E x c e l e n t e post! A crítica seria, propriamente, desenvolver os conteúdos da forma poética, de modo a embasar a ação: formar, informar, conformar...etc. Sim, é necessário além da poética, e da reflexão sobre a forma, indicar normas, valores, metodos para a ação concreta naquilo que se percebe como desequílibrio, de-formação...

Jordano Viana Fernandes disse...

O que dizer deste post? Parece jogo de palavras; imagem nenhuma me vem à mente quando leio linha pós linha. Apenas o que já foi dado. Mas uma palavra me é forte: disformar, a única que tem um efeito contrário das demais. É assim que eu me sinto diante da técnica, da pesquisa, do assombroso progresso da tecnociência, da informática, da robótica... Assombro, porque disformado. Disfomado, por não acompanhar o progresso. Daí a rejeição, a repulsa, o desinteresse, que não é comodismo, mas um inexpressível mal-estar ao deslizar todos os corrimões de aço e técnica nas escadarias deste mundo. Parece que dá vontade de correr, parece fobia. Pensem como quiserem! Eu, apenas, vejo ressaca. Af!

Giangiacomo disse...

Concordo! Não será que questão “poética” em bioética (eticamente) apontaria para uma necessidade mais profunda, ou seja, o 'dever' de ser reconduzida ao seu alvo mais original, a póiesis (criação, ação, fabricação)? Neste alvo, poderiam ser ekstaticamente (cf. Heidegger) con-vocadas também as ciências e a técnica?

Valentina disse...

... Poesia-poiesis. Ouvido perante os gemidos da criação e voz que os canta para os ouvidos surdos. Canto que ritma a práxis, ação que transforma, primeiramente, aquele que quer transformar. TRANFORMAR apareceu com força aos meus olhos ao lê-lo, Ulisses. E pensei: claro, é possível transformar para, como dizia Giuseppe Tommasi di Lampedusa (em “Il Gattopardo”), deixar tudo igual. Podemos também transformar para que algo seja diferente quando NOS transformamos estando dispos@s a informar, a comunicar, não para conformar, manipular, mas para conformar-harmonizar. Infelizmente a diferença não é sempre tão evidente!
Aí vai uma pergunta teopsicológica ou psicoteoanalítica: é possível transformação sem “pai”? Explico: na psicanálise o pai é o terceiro que possibilita a individuação (i.é, o processo de crescimento que nos permite ser inivíduos-pessoas). O pai representa a lei, o limite ao “fusional” da relação mãe-filho. Nossa relação com as tecnologias é de fusão (estou pensando ao que escrevia o outro dia quanto à “unidade psicofísica”)? Este “poder além do corpo” que é a tecnologia, teria necessidade de um “pai”? O que seria o pai? É suficiente uma ética consensual, entre “irmãos”? Pelo que vimos na aula poderia dizer que não. A Lei Natural, interpretada como dom a ser interpretado (!!!), poderia ser uma saída? Gostaria de uma resposta teopsicoanalítica!

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