domingo, 27 de fevereiro de 2011

A bioética segundo Franklin - II

Bioética-bioéticas: a teia e a aranha

A realidade complexa ou plurifacetada exigiu o surgimento de várias ciências que, atualmente, encontram na bioética um espaço para dialogar ou efetivar a sonhada interdisciplinariedade. Tantos saberes, que antes pareciam ou se queriam desconexos, percebem-se imbricados porque tentam conhecer e, às vezes, dominar a vida em todas as suas facetas. Faz lembrar de uma teia onde os diversos fios – saberes – embora pareçam separados possuem ligeiros pontos de contato que garantem sua eficácia. Esta imagem – teia – poderia ser aplicada a bioética.

A tarefa de “dominar” a realidade plurifacetada faz surgir questões urgentes. A bioética contribui com modos diferentes na solução das questões: principialista e casuístico. Fios distintos mas que se cruzam para garantir a eficácia segura e cuidadosa no desenvolvimento humano – tecnociências. Mais uma vez a imagem da teia! Poder-se-ia falar de bioéticas!

O modo principialista parte dos princípios - beneficência, não-maleficência, autonomia e justiça – para tratar das questões e apresentar respostas eficazes. Estes princípios são frutos de reflexões sobre casos concretos nos quais a vida foi posta em risco ou seres humanos não foram respeitados. O problema com este modo de ser da bioética surge quando os princípios são aplicados sem se levar em conta as circunstâncias concretas dos casos. Partir de pressupostos universais para analisar e resolver questões éticas pontuais parece um caminho dedutivo seguro. Exacerbar estes mesmos pressupostos princípios desprezando o contexto leva ao principialismo – exagerada confiança nos princípios - que pode ser nocivo. Um outro extremo seria a casuísmo porque parte apenas dos casos concretos. Roque Junges sugere uma inter-relação dessas “duas faces da bioética”: casuística levada em conta porque as questões éticas concretas exigem respostas e exercício hermenêutico dos pressupostos.

O principialismo – aguerido nos princípios da bioética – faz lembrar o probabiliorismo que se agarrava a norma como forma seguro de resolver as questões morais. Já a casuística faz lembrar o probabilismo. Surgiu uma “terceira via” entre probabiliorismo e probabilismo que foi o equiprobalimismo. Atualmente, entre casuística e principialismo a hermenêutica surge, não como “terceira via”, mas como modo de interpretar os princípios e entrelaçar os fios da teia.

Só há teia se uma aranha a construir! Que aranha é capaz de juntar ou construir fios diversos – diferentes saberes\diferentes bioéticas – fazendo-os inter-conexos no cuidado com a plurifaceta realidade se não a hermenêutica! Ela interpreta não só a complexa realidade produtora de casos como também os pressupostos princípios com os quais nos aproximamos dessa mesma realidade e dos casos. Diferente da aranha que constrói sua teia como armadilha para agarrar suas prezas, a hermenêutica tece uma teia de relações que tem como centro o cuidado com o outro.

Por Franklin Alves Pereira

0 comentários:

Postar um comentário