segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Porque “trans”-disciplinaridade em bioética?

Faz alguns dias que estou perguntando-me porque, segundo a reflexão de Roque Junges, a bioética deveria ser trans-disciplinar e não simplesmente interdisciplinar...
Será que a ciência (clássica?) só consegue dar conta dos níveis definidos por seus postulados (e, em conseqüência, pela “lógica”), que “definem a ciência disciplinarizada”, na tentativa de dar conta do senso comum?
Então “existem” outros níveis da realidade nos quais tem vigência o princípio do terceiro incluído? Que possibilidades a gente teria para “descrever”, para dizer numa linguagem esta realidade? Que consistência e persistência teriam esses outros níveis da realidade? Que homem e que mundo se encontrariam ali? E, se existem trans-níveis da realidade, porque então não existiriam também trans-trans-níveis, e daí para frente?
Precisamos de “uma” transcendência, da definitividade do “trans”? Como ficamos com essa pretensão de definitividade?
São perguntas, talvez não simples, mas desafiantes...

Por Giangiacomo

4 comentários:

alessandro disse...

Olá! Tiago. Quando eu estava lendo o livro de JUNGES eu me perguntava por que a ciência não se perguntava pela relevância da religião, da cultura, dos valores e de adjetivos ontológicos ao ser humano como o cuidado, a justiça, a vulnerabilidade e a finitude? Somos somente massa, medida e cálculo? Mesmo se fôssemos para que serveria a linguagem simbólica e os nossos sentimentos? Sim, precisamos da "trans" para não sermos reducionistas e limitados no olhar.
Até e obrigado.

Geraldo Ulisses disse...

Giangiacomo, creio que as respostas se encontram nos próprios questionamentos que você apresenta. A proposta de Junges se entendi bem o que ele propõe em seu livro, é ver os procedimentos dos fatos que abrangem a bioética pela interpretação de suas relações com o novo, pois ela também é uma principiante nessa proposta hermenêutica moderna. Se posicionar com uma finalidade transdisciplinar irá permiti-la navegar pelos métodos científicos sem aportar em nenhum deles, ao passo que com postura interdisciplinar algo dela tem por obrigatoriedade pertencer ao corolário disciplinar. Não podemos nos esquecer de que todo método cientifico é fragmentado por si só, em função do objeto de estudo.

Valentina disse...

Inter e trans... Imagino a interdisciplinaridade como a rede dos neurônios do córtex, que constantemente estão trocando informações no mesmo nível. Imagino, depois, a transdisciplinariedade como o intercambio de informações entre a periferia do corpo e os níveis de elaboração mais elevados. Um estímulo chega aos receptores da dor, é transmitido aos níveis mais arcaicos de elaboração das informações até chegar ao lóbulo frontal: eis a significação moral da dor... Um simples estimulo “material” se transforma em sentido. Os níveis mais “básicos” se ligam aos níveis mais evoluídos formando uma maravilhosa estrutura dinâmica e circular. Acredito que a palavra transediscipinaridade represente o esforço de tomar em consideração o dinamismo próprio da “hipercomplexidade” do humano... Esse humano que continua desejando definidade.

Giangiacomo disse...

Obrigado a todos vocês! A tentativa de abranger (a hypercomplexidade de) o humano pode re-velar uma maior profundidade do real e do mundo? Ou, deslocando-se cada um para o ‘inter’, podemos pensar de passar de uma “emergência” para ficar mais atentos e livres em outro “Emergente”?

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