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Prometeu tinha um irmão, Epimeteu. Se Prometeu “lutou” com os deuses roubando-lhes o fogo, Epimeteu acolheu dos deuses um dom: Pandora-mulher. Um dom que era, ao mesmo tempo, muitos dons. Pandora, por curiosidade, quebrou a caixa, “objeto maldito”, do qual sairiam todos os males.
Pandora, Quem é você? Dom ou maldição? Sua curiosidade e fragilidade são presente ou azar? Desde que você foi dada, a técnica não é mais neutra... Ela é meio para transformar, manipular, melhorar, prolongar a vida que é relação. Não só a vida, mas vida que é relação, dança entre o indivíduo com seus legítimos interesses, seu legítimo desejo de prazer, e a comunidade, com suas “energias homogeneizantes” (Lupasco, 1994), seus ritmos cadenciados.
Pandora, não queremos que você peça desculpa. Já há muitos que tentam recuperar os pedaços da caixa e encerrar nela, uma vez por todas, os males do mundo. Só queremos saber. Queremos saber - se você souber dizer - quem são as
mãos que buscam, qual cola elas usam, de quais países e ruas e casas e sertões os males são retirados. Queremos saber “quando vamos ter raio laser mais barato” (Cássia Eller). Queremos entender por que as caixas de uns são maiores e mais fortes que as caixas de outros. Queremos saber, entender, pensar, dizer, denunciar a não liberdade que está atrás do livre mercado, que estica a pele sempre jovem de poucos e envelhece massas surdas e mudas. Queremos conhecer os paradigmas que movem as pesquisas para a reconstrução da caixa, Pandora, para depois, com outra mulher, Maria-mulher de Betânia, sentar-nos aos pés de nossa humanidade e quebrar o frasco da gratuidade que é graça... direito de todos.
Valentina
IMAGE: Jules Joseph Lefebvre (1882) [http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/Pandora]
Um filme sobre o drama do tecnolatra convencido: Krzysztof Kieslowski, Decálogo 1
6 comentários:
Valentina nos deu o questionamento ético na forma de narrativa... poética. E perguntou-se sobre o signo do feminino na saga prometéica da humanidade. E "vive la difference!"
Valentina, achei excelente a leitura que você vez em estilo poético. Malgrado eu não conhecer bem a mitologia grega enquanto tal, e quase nada sobre Pandora, pensei no sentido da narração. Daí a minha inquietação: quais males são esses que escapuliram da caixa do dom? Será que realmente são o que pensamos que são? Se Cássia Eller canta que "Queremos saber", então eu me sinto incluído nesse conjunto com tantas perguntas e quase nenhuma resposta, mas apenas hipóteses. Assim vejo o nosso mundo, todo cheio de "sis". Dizem por aí que o importante não é tanto a resposta de determinada pergunta, mas a própria pergunta. Destarte, agora, sou que quero ro saber, se realmente o que importa é perguntar, onde chegaremos com as nossas buscas, com os nossos "queremos saber"? E Chegando a elas, que duvido muito que se chegue, o que faremos (Cazuza)? É assim que eu me sinto quando vejo o progresso da técnica. Sei que não é ela (técnica), mas eu.
No entanto, Jordano, o ser humano, porque "entre partes" entre si e o outro, si e o objeto, si e o ambiente, vive interpretando, e o perguntar é a raiz de tudo, de toda re-flexão... de onde brota a filo, a teo, a ética... Mesmo a consciência vem da clareira deixada pelo "entre" das partes.
Ah, o outro; sempre ele. Não seria a terceira pessoa denominada "relação", aquela que guarda os segredos da caixa de Pandora e sempre nos propõe a eternamente buscá-la? Essa relação existente entre a bio e a ética, que nos faz buscar respostas para as perguntas ainda não totalmente formuladas?
Parabéns, Valentina! Gostei do seu texto. Você me leva a refletir uma problemática existente relacionada à ação evasiva e destruidora do homem, não só nos aspectos da natureza, mas também do homem em si mesmo. Parece que quanto mais buscamos entender a reação da natureza menos entendemos a ação do homem. No mito de Pandora a curiosidade faz com que ela abra a caixa libertando todos os tipos de desgraças e calamidades, mas no momento do susto ela lacra a esperança que ficaria ali encerrada tirando o que era tão precioso para a humanidade, a paz e a tranquilidade. Espero que em nosso fechamento não deixemos que a busca do poder e do descobrir o novo não nos faça esquecer que destruindo os bens naturais destruímos a vida humana. Que a esperança de sair do vazio que nos isola do real nos leve a não só questionar o que ganhamos e o que perdemos com tantas façanhas do homem em diferentes aspectos culturais, sociais, tecnológicos e etc.. O que precisa de verdade é o homem apreender valorizar a própria vida. Se assim fosse não teríamos “soltado” tantos males existentes na sociedade, nem faríamos como Pandora trancar em nossa caixa a possibilidade de salvação da vida do nosso planeta.
Pessoal,
Creio que o mito de Pandora revele a ambiguidade do ser humano. Por que a esperança está na caixa de todos os males? Creio ser esta a grande pergunta. a esperança é algo bom ou ruim? O cristianismo coloca a esperança como virtude. Porém, como a coloca o homem grego? Será qeu mediante a realidade da mortalidade a esperança não pode ser vista como algo negativo? Por outro lado,s em expectativas a serem correspondiadas ou não, nós podemos nos chamar de seres humanos? É aesperança que nos faz artistas a transformar o mundo. Se queremos saber é por ter esperança de algo. Se preoduzimos beleza, bondade e conforto é pelo fato d etermos esperança de que as adversidades podem ser superadas. Creio que um elemento puramente natural seja incapaz des entir esperança. sua característica é o alheamento. Isto somente demonstra a realidade do desconhecido que desponta sobre o ser humano que é a transcendência. Somente a transcendência mergulha o ser humano nas artes e na técnica ao libertá-lo do alheamento natural. Espero que tirem proveito do meu comentário tardio.
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